Dando continuidade à série sobre cuidados com os instrumentos musicais, nessa publicação conto com a colaboração do violonista Cyro Delvizio.
A entrevista é norteada na convivência do músico com atividades cotidianas, tais como, manuseio do instrumento em sua própria casa e no deslocamento para ensaios e viagens interestaduais e internacionais.
O Cyro tem um currículo louvável. Nascido em Campo Grande-MS, local onde iniciou seu contato com o violão, mudou-se para o Rio de Janeiro em 2004 para aprimorar seus estudos na UFRJ. Na universidade formou-se em música e atualmente cursa o mestrado em Musicologia.
Intérprete e compositor, com intensa atuação na área, Cyro já foi contemplado em diversos concursos e festivais, dentre os quais pré-selecionado para competir no UTD Fifth Annual Guitar Competition, nos EUA.
Além disso, atua ao lado da soprano Manuelai Camargo, no Duo Cancionâncias, e junto comigo no conjunto Violões da UFRJ.
Segue a entrevista:
1- Cyro, quais cuidados você adota para conservar seu violão?
O primeiro passo para ter cuidado com seu instrumento é cultivar o carinho e respeito por ele
Acho essêncial ter alguma capa para protegê-lo (obviamente cases são os melhores) <acesse Cuidados Para Guardar Seu Companheiro de Todas as Horas> e escolher um bom local em casa para deixá-lo. Um canto onde ninguém possa derrubá-lo, onde o sol não lhe atinja.
Quando não estiver em uso, sempre guardá-lo apropriadamente, ou seja, nunca deixá-lo largado em cima do sofá ou apoiado em algum móvel...
Dizem que tocá-lo sempre também ajuda, pois isso apura sua sonoridade, afinal a madeira acostuma-se à sua finalidade que é a de bem ressoar.
Talvez trocar as cordas regularmente não ajude exatamente a conservar o instrumento, mas como elas oxidam com o tempo, isso pode vir a fazer algum mal, inclusive desgastar mais os trastes.
Passar flanelas de algodão no tampo, fundo e etc... Apesar de eu mesmo não usá-las constantemente, acredito que ajudam a reduzir a gordura do corpo acumulada.
Isso me leva a última dica: de vez em quando, ao trocar as cordas, aproveito para limpar o acúmulo de gordura corporal do fingerboard, que fica junto ao trastes. É muito provavel que essa gordura corporal ajude a corroer os trastes. Se não, isso serve apenas como higiene do instrumento.
Um extra: já vi um sujeito passar uma escova de dente nas tarrachas... Isso sim é que é cuidado! (risos)
2- Como o violão reage quando exposto à umidade excessiva, calor intenso, ou ambientes muito secos? A sua sonoridade pode ser influenciada por esses fatores?
Por experiência própria posso afirmar que as mudanças de ambientes com umidade relativa diferente influem na madeira do instrumento, e consequentemente alteram sua sonoridade.
O equilíbrio é tênue: muita umidade deixa o som entubado, enquanto ambientes muito secos melhoram o som mas trazem o risco de rachar o violão (Por favor, entendam a gravidade desta situação!!!).
São os vacúolos celulares da madeira que fazem o som ressoar. Quanto mais secos estão, mais espaço tem e consequentemente maior resultado sonoro será obtido. Mas repito que madeira muito seca fica mais frágil e consequentemente pode vir a rachar.
Outro fator também determinante é o local onde o violão foi construído, ou seja, quais foram as condições de umidade mantidas em sua criação, mas a este respeito não tenho muito a acrescentar a não ser o que já passei.
Violões feitos em lugares muito secos quando levados a locais muito úmidos tendem a ficar entubados. Comprei um violão Madrilenho de Angel Benito Aguado e o levei de Madrid para a úmidade intensa do Rio de Janeiro. Resultado: a impressão era de que o violão estava completamente encharcado. Para contornar a situação, passei a colocar sacos de sílica dentro do instrumento, o que normalizou o som.
Indico este procedimento para situações similares. A sílica é uma substância que suga a úmidade (é usada portanto como antimofo).
Quando ela está seca sua cor é branca e quando ela satura, fica repleta de H2O, fica levemente rosada. Basta colocá-lo no microondas por alguns minutos e ela seca.
Uso isso sempre no violão de Madrid quando ele está em locais úmidos. Basta deixar os saquinhos dentro do case. Quando o levo para locais secos sempre tiro os sacos de sílica.
A dica é boa, mas há de se ter atenção!
3- Pelo que disse, os instrumentos construídos no Brasil necessitam de outros cuidados quando levados para o exterior?
Deve-se conhecer o clima de cada local que o violão será levado, para saber como proceder.
Instrumentos construídos em locais úmidos (como no Rio de Janeiro), ao serem transportados para locais muito secos correm sérios riscos de rachar. Para isso, usa-se um umidificador dentro do case chamado "Dumpt", que é vendido em lojas especializadas.
Pode-se também construir um. Faça furos em um pedaço de mangueira (de mais ou menos 10 cm), e coloque esponja dentro dele.
Depois disso é só umidificar a esponja com água e colocá-la dentro do case.
Aconselho também que tome o cuidado de não se comprar violões "frágeis". Chamo assim violões que nitidamente têm o tampo e laterais da finura de uma casca de ovo. Normalmente são os mais leves.
Esse tipo de construção está mais sucetiva a rachaduras, inclusive por pancadas.
muito bom o seu blog!!
ResponderExcluirficou bonito!!!!
parabéns fabio!!
nota 1000!!!!!